sábado, 17 de novembro de 2012

Versos de Tartaglia à Cardano - A resolução das equações do terceiro grau

Poesia pura, matemática, expressa em versos, foi assim que Tartaglia (pseudônimo de Niccolò Fontana, matemático italiano, cujo nome está ligado ao triângulo de Tartaglia e à solução da equação do terceiro grau) comunicou a Cardano (cientista, matemático, filósofo e médico. Pioneiro em introduzir as idéias gerais da teoria das equações algébricas. Na medicina o primeiro a descrever clinicamente a febre tifóide. Em Física, escreveu sobre as diferenças entre energias elétricas e magnéticas) o segredo da sua descoberta, por meio de versos.

Na época, os autores não dispunham ainda de uma notação adequada para tratar as equações em sua generalidade e não podiam, portanto, expressar seus métodos resumidamente mediante fórmulas, como fazemos hoje em dia.


A seguir, uma tradução para o português dos versos transcritos na página 120, da edição de 1554, dos Quesiti:



1. Quando o cubo com a coisa em apreço

Se igualam a qualquer número discreto, 
Acha dois outros diferentes nisso 


2. Depois terás isto por consenso
Que seu produto seja sempre igual 
Ao cubo do terço da coisa certo 

3. Depois, o resíduo geral 
Das raízes cúbicas subtraídas 
Será tua coisa principal. 

4. Na segunda destas operações, 
Quando o cubo estiver sozinho 
Observarás estas outras reduções 

5. Do número farás dois, de tal forma
Que um e outro produzam exatamente 
O cubo da terça parte da coisa. 

6. Depois, por um preceito comum 
Toma o lado dos cubos juntos 
E tal soma será teu conceito 

7. Depois, a terceira destas nossas contas 
Se resolve como a segunda, se observas bem 
Que suas naturezas são quase idênticas 

8. Isto eu achei, e não com passo tardo,
No mil quinhentos e trinta e quatro 
Com fundamentos bem firmes e rigorosos 
Na cidade cingida pelo mar.


É conveniente lembrar que Tartaglia (assim como depois, faria também Cardano) não utiliza coeficientes negativos em suas equações. Então, em vez de uma equação geral do terceiro grau, ele deve considerar três casos possíveis: 

X³ + ax = b, 

X³ = ax + b, 

X³ + b = ax .

Tartaglia chama cada um desses casos de operações e afirma que irá considerar, de início, equações do primeiro tipo: “cubo e coisa iguala número” (X³ + ax = b). 
No quarto verso começa a considerar o segundo tipo “quando o cubo estiver sozinho” (X³ = ax + b) e, no sétimo, faz referência ao terceiro caso (X³ + b = ax). 

Se propõe a resolver o primeiro caso, nos três versos iniciais, para depois justificar seu método, de uma forma simples.
O número se refere ao termo independente, que denotamos aqui por b. Quando diz “acha dois outros diferentes nisso”,está sugerindo tomar duas novas variáveis, cuja diferença seja precisamente b, isto é, escolher U e V tais que: U− V = b. 

A frase “... que seu produto seja sempre igual ao cubo da terça parte da coisa” significa que U e V devem verificar: U*V=(a/3)³

Finalmente, “o resíduo geral das raízes cúbicas subtraídas será tua coisa principal” significa que a solução é dada por:





A frase final “... a cidade cingida pelo mar” é uma referência a Veneza, onde realizou suas descobertas. 

fonte: Curso Oficina – Preparatório às Escolas Militares e Vestibulares - http://www.cursooficinajf.com.br

tag: interessante
Compartilhe : :

0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por contribuir com este blog!
"Nenhum de nós é mais forte do que todos nós juntos!"